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80% dos idosos da cidade nunca fizeram teste de HIV, diz pesquisa

Dandara Flores Aranguiz

Foto: Renan Mattos (Diário)
O professor Huander Felipe Andreolla, da UFN, orientou o trabalho de conclusão de curso de Adeline Viero sobre HIV/Aids   

Há três décadas, a Aids era sinônimo de morte, e o preconceito e o medo pairavam nos consultórios médicos de todo o mundo quase na mesma velocidade com que o vírus HIV era transmitido. Em 1988, foi instituído o Dia Mundial de Luta contra a Aids, e o dia 1º de dezembro se tornou um marco na resposta global à epidemia. Ao longo desses 30 anos, os diagnósticos e tratamentos evoluíram, os efeitos colaterais dos medicamentos diminuíram e, hoje, é possível viver com HIV.

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Dados recentes divulgados em 2017 pelo Ministério da Saúde apontam que, em 10 anos, o número de idosos com HIV no Brasil cresceu 103%. De acordo com o Boletim Epidemiológico, em 2016, foram registrados 2.217 casos de Aids no Brasil entre pessoas com 60 anos ou mais. Um estudo recente realizado por pesquisadores da Universidade Franciscana de Santa Maria (UFN) verificou o nível de conhecimento dos idosos do município sobre o vírus HIV/Aids.

A pesquisa, inédita na região, apontou que apenas 19,44% das pessoas entrevistadas relataram já ter feito o exame laboratorial para a pesquisa de anticorpos anti-HIV1/2. Ou seja, 80,56% da população idosa consultada no estudo nunca fez o teste sorológico de HIV. Outro número que assusta é em relação à prevenção: 79,6% reveleram não fazer uso de preservativo.

- Na última década, tivemos um incremento de 15% de novos casos de HIV/Aids na população acima de 60 anos, o que mostra uma mudança do perfil epidemiológico. Apesar de ter uma estabilização, de forma geral, e uma redução da mortalidade, na população idosa a gente não vê esse comportamento, e, sim, uma crescente. Mas temos que considerar que, hoje, existem dispositivos que permitem às pessoas serem ativas. As pessoas saem mais, encontram-se mais e interagem mais, mas elas não são motivadas a se prevenir - destacou Huander Felipe Andreolla, professor da UFN que orientou o estudo.

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Os dados foram coletados entre abril e agosto de 2018 por meio de um questionário validado. Sendo que 108 pessoas, com idade entre 60 e 90 anos, e de oito bairros diferentes, participaram da pesquisa, que foi tema do Trabalho Final de Graduação da biomédica Adeline Viero, egressa do curso de Biomedicina da UFN.

- O estudo nos permitiu perceber que ainda existem muitos paradoxos entre a fala e o fazer. Cerca de 71% dos idosos entendem que a infecção também é um problema que afeta essa faixa etária, no entanto, menos de 20% deles já realizaram o teste. Pretendemos, agora, utilizar esses dados junto ao município para elaborar estratégias de educação em saúde para essa população e, mais para frente, ampliar a pesquisa para outras cidades da região para que a gente possa ter uma amostragem maior - disse Adeline.

Os resultados da pesquisa serão publicados na Revista Ciência e Saúde Coletiva por meio de um artigo.

EVENTO DEBATEU OS AVANÇOS NA LUTA CONTRA A DOENÇA

Profissionais da área de saúde da Rede Básica, estudantes e usuários se reuniram na Universidade Franciscana (UFN), na sexta-feira, para debater o assunto. A atividade faz parte das ações alusivas ao Dezembro Vermelho, que é dedicado à prevenção e à promoção dos direitos humanos das pessoas que vivem com HIV/Aids. O evento debateu os avanços na luta contra a doença.

Eva Vieira Rodrigues, 70 anos, convive com o vírus HIV há 30 anos. Na sexta, ela vestiu a camisa na luta contra o preconceito e mostrou que é possível, sim, ter uma vida normal após o diagnóstico.

- Na época, eu fui trabalhar numa firma e pediram uns exames. Foi, aí, que eu descobri. Fazia uns seis meses que eu estava com o meu companheiro. Quando eu contei para ele o resultado, ele disse que eu tinha pegado de outro, mas, depois, ele assumiu que tinha Aids, mas que não se tratava - disse.

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Depois de ouvir da boca da médica que estava infectada, dona Eva chegou a pensar em suicídio.

- Quando eu soube, saí do hospital, peguei um táxi e fui para a Garganta do Diabo. Eu ia me matar. Saí do consultório arrasada. Mandei o motorista embora, mas ele não deixou eu fazer o que tinha ido fazer lá. Hoje, eu sei que HIV não mata - declarou.

De acordo com a coordenadora da Política HIV/Aids, IST's e Hepatites Virais do município, Daiane de Magalhães Tolentino, em 2017, foram 266 casos novos de pessoas infectadas com HIV em Santa Maria.

- Neste ano, a gente deve fechar com um número menor, mas não sabemos se são menos casos de HIV ou se as pessoas estão deixando de procurar o serviço. Existem muitas pessoas que convivem com o vírus e não sabem, já que os sintomas só vão aparecer, em média, 10 anos após a infecção da doença - relata Daiane.

AÇÃO NA PRAÇA

Neste sábado, uma ação em alusão à campanha ocorre na Praça Saturnino de Brito, a partir das 13h, e contará com a realização de testes rápidos, distribuição de material informativo e orientações de saúde.

ONDE PROCURAR ATENDIMENTO

  • Desde 2015, todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Estratégias Saúde de Família (ESFs) oferecem os testes de HIV, hepatite B, hepatite C e sífilis pelo SUS
  • A PEP (profilaxia pós-exposição sexual consentida) é oferecida no Pronto-Atendimento (PA) da Tancredo Neves, na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) junto à Casa de Saúde e, a partir deste sábado, no Pronto-Atendimento (PA) Municipal Flavio Miguel Schneider, no Bairro Patronato. A PEP é uma medida de prevenção à infecção pelo HIV, que consiste no uso de medicação em até 72 horas após qualquer exposição de risco de contato com o HIV (violência sexual, relação sexual sem preservativo ou acidente ocupacional). Devido aos seus efeitos colaterais, a profilaxia pode ser utilizada no máximo duas vezes ao ano

Casa Treze de Maio 

  • Onde - Rua Riachuelo, esquina com a Rua Pinheiro Machado, nº 364
  • Atendimento - De segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30min e das 13h às 16h30min
  • O que levar - É preciso apresentar o cartão SUS, carteira de identidade e comprovante de residência
  • Informações - (55) 3921-1263

Aids e HIV não são a mesma coisa

  • HIV é o vírus que está presente no corpo da pessoa infectada
  • Aids é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida que ataca as células de defesa do corpo. Por isso, quem desenvolve Aids fica vulnerável a gripes, resfriados e outras infecções
  • A Aids só se desenvolve se a pessoa infectada pelo HIV não aderir ao tratamento. Portanto, nem todas as pessoas com HIV vão desenvolver Aids ao longo da vida

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